O universo das criptomoedas não está imune à transformação gerada pela ascensão da agenda ESG no mercado financeiro. Historicamente, as criptomoedas e as finanças verdes caminhavam em direções opostas por conta do impacto negativo da mineração de criptomoedas e a alta demanda de consumo de energia para realizar atividades relacionadas ao comércio cripto, mas, com o crescente interesse de investidores por ativos sustentáveis e o potencial competitivo que o alinhamento aos pilares ESG tem gerado, a adaptação das criptomoedas ao futuro sustentável é uma realidade e pode consolidar um mercado altamente valioso.
A pressão por um mundo mais sustentável criou uma corrida por criptomoedas mais verdes e grandes redes cripto têm se movimentado para garantir a transformação dos seus processos de geração de ativos em linha com as expectativas e demandas do mercado ESG. Hoje, grandes nomes como a Ethereum, a segunda maior criptomoeda em circulação, já servem como referência nesse novo cenário em potencial de criptomoedas incluídas no escopo da sustentabilidade.
Criptomoedas e ESG: uma corrida contra o tempo
A “produção” de uma criptomoeda requer um custo operacional muito alto e, por isso, são necessárias as chamadas fazendas de mineração de criptoativos, que nada mais são do que inúmeros computadores ligados e trabalhando de forma ininterrupta para conseguir decifrar os códigos de segurança e proteção da rede blockchain que compõem esses ativos digitais. E, é claro que, para dar conta de toda essa estrutura, é exigido um consumo de energia e um poder computacional da mais alta qualidade.
Essa demanda é tão grande que, de acordo com o Índice de Consumo de Eletricidade da Universidade de Cambridge, o gasto de energia para a produção anual de Bitcoin, a maior criptomoeda do mercado global, é maior do que a geração anual de países inteiros como a Argentina, Ucrânia, Chile, Noruega, entre outros.
Essa demanda é tão grande que, de acordo com o Índice de Consumo de Eletricidade da Universidade de Cambridge, o gasto de energia para a produção anual de Bitcoin, a maior criptomoeda do mercado global, é maior do que a geração anual de países inteiros como a Argentina, Ucrânia, Chile, Noruega, entre outros.
Dessa forma, a fim de minimizar o impacto negativo das criptomoedas e descarbonizar a energia demandada para a mineração, algumas grandes moedas do universo cripto têm se comprometido com a sustentabilidade e investido em alternativas para sobreviver em um mercado de investidores cada vez mais exigente ao comprometimento ESG.
É o caso da Ethereum, que, hoje, segundo o CCData – referência de dados e metodologias de avaliação do impacto de cripto no mundo – é a criptomoeda mais sustentável em atividade no mercado. Isso porque, em comparação a outras gigantes como Bitcoin, a Ethereum identificou o problema operacional da mineração dependente ao alto consumo de energia e substituiu por um modelo de menor impacto, que demanda menos estrutura digital e, consequentemente, menos consumo energético. De acordo com o CEO da Ethereum, a ideia é lançar testes referentes a Ethereum 2.0 com a nova infraestrutura independente da mineração e da energia baseada em carbono, medindo a eficiência por meio da redução de energia e pelo seu valor de mercado.
Criptomoedas aceleram a chegada ao ESG
Essa movimentação de grandes redes cripto foi o estopim para que a necessidade de minimizar o impacto ambiental e climático dos ativos digitais se tornasse prioridade entre players do mercado cripto. É a partir desse pensamento que surgiram iniciativas como a Crypto Climate Accord (CCA), um projeto para zerar a dependência de fontes e matrizes de combustíveis fósseis para a mineração de criptomoedas. Essa iniciativa, conhecida como proof-of-green – ou prova do verde, em tradução livre – é uma colaboração dinâmica entre líderes da indústria de criptografia e blockchain, almejando acelerar o desenvolvimento de soluções digitais e pavimentar o caminho para um futuro mais verde dentro do setor.
O ponto central do projeto reside na transição de modelos intensivos em energia, como o modelo de mineração, para alternativas mais ecológicas, como a escolhida pela Ethereum. A partir disso, o CCA e sua rede de empresas engajadas elaborou um certificado para classificar os avanços de transição e adaptação das criptomoedas frente aos desafios da sustentabilidade, garantindo uma validação para os investidores e reguladores do mercado.
Dessa forma, a trajetória de busca por um equilíbrio entre inovação e responsabilidade ESG no universo cripto contará com diferentes frentes como resposta às barreiras e incompatibilidades do cenário atual. Entre iniciativas geridas pelas próprias redes de criptomoedas e pelos stakeholders das empresas globais, a transformação do mercado de ativos digitais e da tecnologia como um todo tem muito a ganhar com a aproximação da agenda ESG, permitindo não só um sistema financeiro com menor impacto ambiental, como também fortalecendo uma nova era do universo cripto com oportunidades de crescimento.
Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.
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