Moeda digital: debate avança após sanções à Rússia e consultas sobre uma CBDC americana

As moedas digitais estão em alta: o governo dos EUA demanda estudo sobre a criação do dólar digital e as criptomoedas aparecem como possível reserva para o banco central russo.
Moeda digital: debate avança após sanções à Rússia e consultas sobre uma CBDC americana
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Equipe Propague
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Ainda em meio à continuidade da pandemia de Covid-19, que acelerou a olhos vistos a digitalização do setor financeiro, as sanções econômicas impostas à Rússia pelos países ocidentais por conta da invasão na Ucrânia têm provocado novas discussões e, até mesmo, movimentos mais concretos de governos e bancos centrais (BCs) em relação à proteção de suas reservas e ao uso de moeda digital. Nesse contexto, inserem-se não só a moeda digital de banco central (CBDC na sigla em inglês) como também as criptomoedas, que ainda dividem muitas nações sobre a sua regulamentação.

Um dos aspectos a observar, aponta Lewis McLellan, editor do Instituto Monetário Digital do OMFIF, é se o congelamento das reservas cambiais do banco central russo no Federal Reserve (FED), Banco da Inglaterra, Banco do Canadá e no Banco Central Europeu poderia elevar a posição das criptomoedas nas reservas do banco central.

Até porque, embora nem todas as reservas da Rússia estejam congeladas e seu ouro seja mantido no país, McLellan afirma que ainda assim será difícil convertê-lo em dinheiro, pois precisaria ser transportado para um comprador disposto a negociar. Dessa forma, o autor expõe que praticamente a metade dos principais ativos russos estão inacessíveis e os BCs estão atentos à questão, o que pode abrir espaço para considerações sobre a inclusão de criptomoedas como reserva.

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Criptomoeda como reserva de banco central?

Conforme disse, títulos e moeda estrangeira mantidos no exterior devem fornecer impulso imediato a uma moeda em tempos de estresse. Por essa razão, as reservas são selecionadas por sua estabilidade e liquidez. Porém, apesar desses dois atributos não serem associados a criptomoedas, como o bitcoin, elas possuem duas qualidades importantes.

A primeira é que a criptomoeda é não-custodial. “Ou seja, um banco central pode configurar sua própria carteira (um dispositivo que armazena criptomoedas offline) e manter seus bitcoins livres da ameaça de sanções”, explica.

Em segundo lugar, ele é digital, podendo ser enviado para endereços em todo o mundo em poucos minutos. O mesmo vale para stablecoins, que McLellan reforça que podem fornecer um meio semelhante de manter reservas fora dos custodiantes com menor volatilidade.

Contudo, lembra, há limitações. Notadamente, o fato de o mercado de criptomoedas estar longe de fornecer o tipo de escala e liquidez necessários para defender o valor de uma moeda. Ao mesmo tempo, elas não fornecem tanto anonimato quanto se acreditava.

Isso porque, ele justifica, se um banco central usar bitcoin para comprar dólares e em seguida comprar sua própria moeda, ele passará pelo sistema do dólar e estará dentro do escopo de sanções, assim como qualquer pessoa que faça transações com eles.

E mais: “mesmo as bolsas de criptomoedas, onde se encontram as maiores concentrações de liquidez, bloquearão o acesso das partes sancionadas, embora até agora pareçam relutantes em proibir o acesso de toda uma jurisdição”.

De qualquer forma, apesar das limitações da criptomoeda serem reais, McLellan argumenta que se os custodiantes que detêm reservas cambiais não são mais invioláveis, então pode fazer sentido para alguns bancos centrais garantir que eles tenham um estoque de ativos não custodiais como as criptomoedas e stablecoins à mão.

EUA autoriza estudo sobre moeda digital

Ao lado da discussão sobre a possibilidade de certos BCs considerarem uma boa ideia comprar criptomoedas como parte de suas reservas para fugir de eventuais sanções, outro movimento relacionado às moedas digitais chama a atenção: o tão aguardado  debate sobre um possível dólar digital por parte do governo americano.

No dia 9 de março de 2022, o presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, assinou uma ordem executiva para que se explore os riscos e benefícios da criação de uma CBDC e outras questões relacionadas às moedas digitais privadas.

De acordo com o documento, órgãos como o Departamento do Tesouro, do Comércio e outras agências governamentais deverão preparar relatórios sobre “o futuro do dinheiro e o papel que as criptomoedas poderão desempenhar”.

A justificativa é de que a ampla supervisão do mercado de moeda digital, especialmente das criptomoedas, é fundamental para assegurar a estabilidade financeira, a competitividade e a segurança nacional. Além da criação de barreiras para crimes cibernéticos.

Outra orientação é para que se avalie a infraestrutura tecnológica necessária para o estabelecimento do dólar digital, o que incentiva, por assim dizer, que o Fed continue os esforços de pesquisa e desenvolvimento.

Conforme disseram, um dos principais objetivos é corrigir as ineficiências no atual sistema de pagamentos do país e aumentar a inclusão financeira, principalmente da parcela pobre da população, pois cerca de 5% não têm conta em banco devido às altas tarifas.

Apesar de altos funcionários do governo dos EUA terem declarado à imprensa local que os movimentos não estão relacionados à conjuntura russa, o fato de ambos estarem acontecendo evidencia a centralidade do debate de moedas digitais em 2022.

 

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