Sempre que uma tecnologia de pagamento é lançada, é comum surgirem questionamentos sobre as suas diferenças e vantagens em relação aos métodos de pagamentos já existentes. Com a moeda digital de banco central (CBDC na sigla em inglês) não é diferente. Mesmo diante de sua capacidade disruptiva, ela costuma ser comparada ao dinheiro móvel ou, mais precisamente, aos pagamentos móveis.
Porém, o que se observa é que, embora se diga que a CBDC difere de qualquer outra opção de pagamento, entre semelhanças e diferenças, ela e o dinheiro móvel são, na verdade, uma combinação perfeita.
Em outras palavras, a implementação de uma CBDC integrada aos serviços e sistemas de dinheiro móvel pode trazer um novo patamar de eficiência de liquidação interoperável, conveniência, segurança, bem como de inclusão e estabilidade financeira. É o que defende Athu Karume, presidente de mercados para a África da eCurrency.
Em um artigo publicado na plataforma The Paypers, ele chama a atenção para a sinergia existente entre as duas formas de pagamento, enfatizando que as inovações possibilitadas por ambas as tecnologias estão aumentando a conveniência do consumidor e ajudando a solucionar questões complexas do setor.
Um cenário proeminente especialmente no continente africano, onde a pesquisa e o desenvolvimento de CBDCs se espalharam em países da parte oriental e ocidental.
A introdução de serviços de dinheiro móvel na região revolucionou a forma como os pagamentos eram feitos e melhoraram muito a facilidade e o custo das transferências de dinheiro e do comércio ponto a ponto, segundo Karume
Agora, com a CBDC, é possível oferecer oportunidades para tornar o dinheiro móvel ainda mais útil e eficiente, melhorando o caminho para a inclusão financeira.
A importância da integração entre CBDC e os serviços de dinheiro móvel
De acordo com Karume, os serviços de dinheiro móvel em curso fornecem canais importantes e eficazes para alavancar a adoção da CBDC e, em contrapartida, estimular a confiança e a preferência do consumidor em manter seus fundos diários e pagamentos digitais nesses serviços.
Além disso, por meio da CBDC, os provedores de serviços de dinheiro móvel podem reduzir sua exposição a acordos, explorar novos segmentos de usuários e aumentar o volume de transações. Tudo isso, mantendo, em geral, sua base de assinantes, canais de interação, configuração de operação e infraestrutura técnica existentes.
Ao passo que o banco central será capaz de obter uma compreensão granular e em tempo real do volume de CBDC que circula nos sistemas de dinheiro móvel, fornecendo informações valiosas para a tomada de decisões políticas e a supervisão da conformidade.
Ao mesmo tempo, Karume ressalta que as políticas monetárias e implicações inflacionárias da CBDC são limitadas, pois os preços dos ativos, valores de garantias e taxas de câmbio não são alterados.
Desse modo, a base monetária é controlada e os arranjos de definição de políticas existentes são mantidos. Enquanto isso, o acesso a dados digitais em tempo real melhora a formulação de novas políticas.
Garantias da integração de tecnologias
Athu Karume também destaca que ao incorporar a CBDC aos seus serviços, os provedores de dinheiro móvel oferecerão aos usuários a capacidade de manter seus fundos como se encontram ou atualizá-los para CBDC.
Vale ressaltar que os fundos em CBDC são 100% garantidos pelos bancos centrais e as transações são liquidadas instantaneamente como dinheiro, mesmo entre prestadores de serviços distintos.
Afinal, o valor fundamental de uma CBDC é sua capacidade de atuar como um complemento digital direto para o dinheiro, dada a sua denominação equivalente a uma moeda soberana nacional.
Dessa forma, ele afirma que indivíduos, comerciantes e empresas de dinheiro móvel habilitados para CBDC terão mais proteção de seus fundos, maior disponibilidade, mais casos de uso e eficiência dos serviços.
Com efeito, conclui, os provedores de dinheiro móvel só têm a ganhar ao fazer a interface de seus sistemas e aplicativos com plataformas de CBDC para atualizar suas operações de envio e recebimento dessas moedas em todas as modalidades de serviços financeiros, sejam eles domésticos de varejo, atacado e transfronteiriço.
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