A descarbonização da economia é mais complexa do que parece para o mercado financeiro

Conferência Global de Financiamento da Transição 2023, realizada em Singapura, trouxe novos insights acerca dos caminhos que o setor financeiro deve traçar em direção a uma economia zero ou de baixo carbono.
A descarbonização da economia é mais complexa do que parece para o mercado financeiro
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Equipe Propague
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O progresso das finanças verdes tem sido crucial para ajudar na descarbonização da economia. É através da oferta de produtos e serviços com foco no desenvolvimento sustentável que o setor financeiro vem dando a sua contribuição rumo a uma economia zero ou de baixo carbono.

Nesse processo, o esverdeamento das carteiras de crédito é uma das principais ferramentas do mercado financeiro e tem como objetivo diminuir, ou mesmo zerar, as posições de ativos relacionados a setores intensivos em carbono.

Ainda que essa solução possa parecer simples a priori, a descarbonização no mundo real não é. Isso porque a maior dificuldade é impulsionar a transição verde na economia real, ou seja, na parte da economia que gera riqueza – emprego e renda – e impacta diretamente a sociedade.

Essa foi a mensagem central que surgiu na Conferência Global de Financiamento da Transição, cuja edição de 2023 foi realizada em Singapura e organizada pelo OMFIF e pela Bolsa de Valores de Singapura.

A importância do evento ficou evidente pela reunião não só de investidores e proprietários de ativos, mas também de gestores de fundos, reguladores, bancos multilaterais de desenvolvimento, entre outros agentes, preocupados com a melhor forma de mobilizar capital para cumprir as metas líquidas de zero carbono.

Segundo Nikhil Sanghani, diretor geral de pesquisa do OMFIF, chegou-se à conclusão de que o envolvimento ativo dos investidores públicos com as empresas do portfólio passará a ser uma ferramenta fundamental para promover a transição verde não apenas das carteiras de crédito, mas da economia como um todo.

O risco de desinvestimento e de não atingimento da descarbonização

Em artigo publicado na página do OMFIF, Sanghani destacou que, entre os oradores do evento, estavam representantes seniores dos principais fundos públicos de pensões e de fundos soberanos.

De acordo com ele, um desses oradores, Liew Tzu Mi, diretora de investimentos de renda fixa e multiativos da GIC – uma das três entidades de investimento em Singapura que gerem reservas juntamente com a Autoridade Monetária do país –, disse que um ponto importante do debate é reconhecer a diferenciação entre alcançar carteiras líquidas de zero carbono e impulsionar ativamente a transição energética.

Segundo Thijs Aaten, CEO da APG Asset Management Asia, as carteiras podem ser tornar verdes apenas pelo desvio de fluxos de capitais, contudo, o trabalho árduo consiste em ajudar as empresas a fazerem essa transição e a terem um impacto na economia real.

Ou seja, o “desinvestimento” de carteiras e ativos com alto nível de emissão de carbono pode ajudar na descarbonização daquele portfólio específico, mas pouco terá um efeito em cadeia expressivo para continuar a descarbonização da economia em grande escala.

Consequentemente, para que os proprietários de ativos façam a diferença, eles terão de garantir que as indústrias se tornem, de fato, mais verdes, em vez de simplesmente abandonarem posições em setores intensivos em carbono, completa.

Diálogo bidirecional e peculiaridades dos diferentes mercados ganham relevância

Essa visão, de acordo com o diretor geral de pesquisa do OMFIF, foi o que levou ao consenso sobre a importância do diálogo ativo entre os investidores públicos e as empresas do portfólio para que seja possível almejar uma descarbonização bem sucedida.

Além da comunicação bidirecional, deve-se considerar as peculiaridades dos diferentes mercados. Isso porque, segundo os oradores, se houver imposição de uma abordagem única para a construção de um caminho para a descarbonização em todas as partes do portfólio, isso não será realista nem construtivo.

Nesse sentido, para Snorre Gjerde, gestor de investimentos e governança corporativa do Norges Bank Investment Management, considerar as diferenças consiste em ouvir os desafios que as empresas enfrentam para compreender como os investidores, proprietários dos ativos, podem apoiar, com o objetivo de alinhar todos os interesses envolvidos.

Ridha Wirakusumah, diretor executivo da Autoridade de Investimentos da Indonésia, exemplifica essa situação com o caso dos mercados emergentes, que dependem de energia barata com utilização intensiva de carbono. A rápida mudança para energias renováveis, geralmente mais dispendiosas, poderia impactar negativamente famílias e empresas, portanto, na sua avaliação, a descarbonização deve ser encarada como diferente de país para país.

Envolvimento ativo do setor público deve se intensificar

Outro consenso da Conferência Global de Financiamento da Transição, destaca Sanghani, é o papel que o setor público deve continuar exercendo no apoio à descarbonização.

Ficou claro, portanto, como a disponibilização de capital de desenvolvimento por parte de governos, agências multilaterais de desenvolvimento e outros organismos para as economias em desenvolvimento pode melhorar o perfil de risco-retorno e incentivar o envolvimento de fundos de pensões e de fundos soberanos, que, em última análise, têm a responsabilidade de proporcionar retornos aos seus investidores.

Ademais, o setor público também pode ajudar aplicando regras para a prestação de informações consistentes, como padrões para as divulgações de sustentabilidade das empresas. Dessa forma, isso permitiria uma melhor comparação entre mercados, assim como harmonizar as exigências para as empresas do portfólio.

 

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