COP28 tenta alinhar inovação e regulação para acelerar a transição verde

O inventário global de emissões mostrou que os países estão muito aquém dos objetivos do Acordo de Paris, enfatizando a importância da agenda regulatória e da transformação tecnológica para a transição.
COP28 tenta alinhar inovação e regulação para acelerar a transição verde
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Equipe Propague
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Mais um ano de empenho global no combate às mudanças climáticas foi finalizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, palco da mais recente edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima, a COP28.

Nas quase duas semanas de evento, um dos destaques foi a avaliação do global stocktake ou inventário global de emissões de gases poluentes.

Pela primeira vez, os países participantes puderam analisar o documento, que relata o que cada país tem feito na condução dos termos estabelecidos no Acordo de Paris, publicado em 2015, com o intuito de deter o aquecimento global.

Na avaliação de Ricardo Assumpção, CSO (sigla em inglês para diretor de sustentabilidade) na EY e palestrante na COP28, a análise do inventário global de emissões assume, nesse momento, papel preponderante: além de confirmar a importância da regulação na condução da transição verde, também reforça a necessidade da inovação a fim de acelerar esse processo.

Em artigo publicado pela Agência EY, Assumpção destacou que, até então, o fluxo de capital ainda está demasiadamente voltado para a agenda regulatória, que, embora imprescindível, não soluciona sozinha as questões do clima. Conforme disse, além de regular é preciso refletir sobre como viabilizar a transformação da economia.

Para ele, a transição para uma economia mais verde só será bem sucedida se as empresas conseguirem promover essa mudança por meio da tecnologia, criando e adotando projetos inovadores, modificando, por sua vez, seus processos produtivos em direção à descarbonização.

Assim, ao avaliar o evento, Assumpção acredita que a COP28 pode ter sido capaz de articular a regulação e a transformação por meio da tecnologia, viabilizando mais rapidamente a inovação em áreas relevantes para mitigar as mudanças climáticas dentro das organizações.

O que a COP28 definiu quanto ao inventário de emissões

Segundo o artigo publicado pela Agência EY, foi definido que a avaliação do inventário global de emissões, que começou na COP28, deverá se repetir a cada cinco anos.

O Acordo de Paris, assinado por quase duas centenas de nações, limita, até o fim deste século, a elevação da temperatura da Terra em 1,5ºC em relação à média que antecede a Revolução Industrial. Para atingir esse limite, é crucial diminuir as emissões de carbono em 42% até 2030.

Contudo, segundo o relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as emissões em todo o mundo só vêm aumentando. Para se ter uma ideia, avançaram 1,2% entre 2021 e 2022, alcançando novo recorde.

Nesse ritmo, a instituição alerta que a elevação da temperatura terrestre poderá alcançar 2,9ºC acima dos níveis registrados antes da industrialização, ou seja, praticamente duas vezes a meta estabelecida.

A orientação, portanto, é de que os países reduzam a utilização de carvão entre 67% e 92% ao longo dos próximos sete anos frente ao registrado em 2019, além de eliminar o uso dessa fonte de energia praticamente por completo até 2050.

Como os países estão bem aquém das ações necessárias para alcançar essas recomendações, o inventário de emissões é uma peça essencial para ajudar a identificar o que ainda precisa ser feito para enfrentar os desafios inerentes às questões do clima.

Parte da solução vem do sul global, onde o Brasil se destaca

Diante do cenário apresentado na COP28, Assumpção destaca que boa parte das soluções tecnológicas para atender à demanda para descarbonização pode ser encontrada no sul global.

O Brasil se insere nesse conjunto de países com destaque. Afinal, abriga grande parte da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, e produz etanol, principalmente o etanol de segunda geração.

Desenvolvido a partir do bagaço que resta da fabricação do açúcar e do etanol comum, o etanol de segunda geração, ou E2G, usa a biomassa como insumo principal de produção, adotando o conceito de economia circular.

Como resultado, o novo combustível carrega dois benefícios enquanto tecnologia capaz de combater as mudanças climáticas: menor emissão de gases poluentes ante o etanol comum, além de não competir com os alimentos por áreas agricultáveis.

Por fim, para além da vantagem comparativa relacionada aos recursos naturais e do pioneirismo na fabricação de biocombustíveis, o Brasil já vem desenvolvendo um arcabouço regulatório capaz de promover a conexão entre regulação e inovação, incluindo leis que oferecem previsibilidade e segurança jurídica em outras tecnologias sustentáveis, como o hidrogênio verde.

 

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